domingo, 11 de novembro de 2012

Ir ao cinema

Depois da minha vida parar, fiquei suspensa, à espera, à espera de uma operação. Sem pensar na doença ou no pós cirurgia. Estava a ver um filme que ficou em pausa, até alguém dizer podes continuar a ver. Sem perceber que depois iria questionar-me do porquê da paragem, ou se iria  haver mais cortes ou se conseguia ver o filme até ao fim.

Foi uma espera de cinco meses, de muita angústia, ansiedade, até dor física porque a um determinado momento a ansiedade passa para o corpo, que se ressente. Se estava sol tinha medo, se chovia, podia constipar-me, se calçasse saltos podia cair, se fosse de saltos rasos podia escorregar, se beijasse podia sentir-e mal, fazer amor podia fazer ter-me outro derrame. Vivi assim cinco longos meses, não vivi ultrapassei um dia de cada vez à espera de ter ordem para entrar no bloco.

No dia 11 de Setembro a ordem estava dada, e foi um dia feliz! Por fim chegara o dia, sem medos, sem nervosismos, entrei sorridente, em paz e sem passar no depois. Sem pensar até nos outros que me rodeavam e que sofreram muito mais que eu, nesse dia.

Ao longe as primeiras palavras que ouvi, deixaram-me tranquila " Anabela, correu tudo bem". depois tudo se passou com a maior simplicidade, um dia com algumas dores, outro com menos. Mas dois meses depois, tudo passou. Só não passou o que nunca eu tinha tido: medo do futuro, consciência da minha fragilidade, a incerteza. 

Cada dia que passa falo mais na operação, na doença. Penso que foi porque tanto fugi do assunto que agora tenho de o viver. 

Ainda não aprendi a sentar de novo, recostar, pegar nas pipocas e curtir o filme. Quem sabe se já é amanhã que isso acontece.

Quando vencemos sabe bem, mas para isso temos de saborear a vitória e não questioná-la. Não é?





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